Às vezes eu páro e penso se há alguém neste mundo tão grande pensando o mesmo que eu. Pensando que o tempo está passando e as coisas acontecem debaixo do meu nariz. Pensando que, muito além da forma, deve se prezar o conteúdo, levando em consideração que este conteúdo precisa do seu espaço para conjugar a sua existência. Pensando que os programas que passam na tv aos domingos são particularmente chatos e que há muito mais para se fazer além de submergir no sofá da sala e se afogar em pipocas quentinhas. Pensando que o simples fato de se fazer nada ouvindo uma respiração que não a minha já é o suficiente para preencher horas de ócio entediante. E que uma opinião diferente da minha faz falta todos os dias. Deve existir alguém perdido por este mundo gigante que também ache que não vale a pena se desgastar em um relacionamento predestinado à falência, e que deve se cultivar os momentos imbecis de um casal. Sim, deve existir alguém por aí que adore os dias de inverno e que ria de pessoas que colecionam diálogos, catálogos, dietas estúpidas e frustrações amorosas. Alguém que não goste dos absurdos racistas e que não me cobre estabilidade. Alguém que tenha aprendido com o passado e que não se arrependa da sua trajetória. Alguém em algum canto destes cinco continentes que também goste de arte e que invista em livros, filmes e uma boa arquitetura, e que saiba todas as regras de acentuação de cabeça. Alguém que escreva músicas sem sentido, só para passar o tempo e que acha que ainda vai acordar com uma grande idéia digna de manchetes de todos os jornais. Deve existir uma pessoa que deite a cabeça no travesseiro e olhe para dentro de si, tentando entender os monstros que a habitam, que tente combater a auto-crítica flamejante, que esteja dando a ponta do nariz por um beijo de boa noite.
Por favor, exista.
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